de espuma e sal
Minha vida sou eu
Ando nas nuvens
Danço com árvores
Caio no chão
Sigo adiante
O próximo encanto
Serena sou eu
Serei
-a.
Minha vida sou eu
Ando nas nuvens
Danço com árvores
Caio no chão
Sigo adiante
O próximo encanto
Serena sou eu
Serei
-a.
No ônibus fiquei entre ouvir a mesma música no repeat quinhentas vezes e ler o livro que eu estou lendo. A música é It ends with a fall, do Okkervil River, e o livro é Number9dream, do David Mitchell. Escolhi a música, umas quatro vezes, depois fui ao livro. Cheguei em niterói rápido.
Na portaria havia uma encomenda: Um homem: Klaus Klump – um livro de Gonçalo M. Tavares que eu encomendei. Chegando lá em cima, dei oi a diarista, falei que ainda estava sem aula, mas que ia distribuir uns currículos para começar a dar aula de português (ou inglês).
Li um pouco mais do Number9dream e ele está perto do fim, num trecho bem legal. Decidi ligar a televisão e vi o comecinho do jogo entre Ucrânia e Inglaterra, a Ucrânia melhor. Liguei o video game, joguei minha master liga, que eu odeio, porque eu estou de saco cheio e não quero fazer nada. Quero esvaziar minha mente.
Se minha vida fosse um filme, seria um filme muito chato.
Depois de encher o saco de jogar video game, li o primeiro capítulo do livro recém comprado na estante virtual. Gostei, mas é bem estranho.
A diarista se despediu e eu não estava com vontade de nada. Peguei o meu caderno comprado em Barcelona que nada tinha escrito ainda além de uma lista de compras e tentei escrever uma poesia. Eu escrevia treze versos que risquei e eu odeio riscar as coisas, acho que feio demais, pensei em arrancar a folha fora.
Com receio de abalar a estrutura do caderno, decidi deixar lá. A cada segundo os riscos e a poesia incompleta cresciam na minha frente. Riam de mim. Peguei a caneta e risquei tudo com força até que uma começou a sair do papel e uma fagulha queimou minha mão.
Senti como se ela estivesse submersa em chamas. Soltei a caneta e a queimação parou. Lavei as mãos na pia e ela não estava sequer quente. Sentei de volta ao sofá, em frente ao meu caderno. Quando tentei segurar a caneta, novamente, senti a mão em chamas.
Desisti. Liguei o video game com o dedão do pé, mas sintonizei no jogo antes. Continuava um a zero para a Inglaterra, muito pouco para acabar. Quando o juiz apitou fim de jogo, eu estava pronto para mudar de canal, mas Steven Gerrard pulou televisão a fora e, suado como estava, disse (de frente pra mim): Actually, what happened to your hand is quite interesting. Pausadamente e hesitante, como qualquer jogador de futebol. Ele se sentou do meu lado no sofá então, e eu enfim mudei de canal.
O jogo era o mesmo, PES 2012. Botei pra dois, mas o controle que eu ia emprestar ao Gerrard estava sem pilha.
–
porque o melhor momento da vida
quando o mistério perde o sentido
a nostalgia registra a sensação
e guarda o melhor momento da vida
na caixa errada, uma que se possui
mas não se acha quando quer ou precisa
tipo um celular porém menos útil mais bonito
porque o melhor momento da vida
não é num grupo não é a dois
você está no dia que não tem nada
o melhor momento da vida
acontece da mais pura ausência
de preocupações de acontecimentos
você não guarda o vento nem a vista
não fica a temperatura ideal em que
o frio não é frio e o calor é apenas
gostoso
o melhor momento da vida
faz os cabelos vibrarem inquietos
e não deixa lembranças maiores
do que os momentos que vêm antes e depois
do melhor momento da vida
tem a ver com aquela manhã
aquela noite perfeita
tem a ver com isso
o melhor momento da vida
tem a ver com tudo antes e depois
sem nada no momento
e a única razão para que você
não perca esse momento dos olhos fechados
da mente gozando
é ter alguém para contar
sem falar nem realmente guardar
só olhar
–