lá
parcialmente sob as cobertas,
debaixo da carne e noite adentro,
onde os poemas fazem cócegas,
há um poste solitário, apenas um —
a luz só precisa iluminar a si mesma.
você não sabe —
o seu sangue não corre em vão;
corre com a pressa de quem sabe
a importância da matemática
mas nunca aprendeu a contar.
fecho a porta
e você diz que não há porta.
no mundo real, as pernas erram os passos;
mesmo com os cadarços bem amarrados,
é fácil tropeçar no próprio tropeço.
você não quer
seu sangue derramado inutilmente;
como se apenas o baque do seu corpo
ao cair inerte e sem vida no solo
já não fosse suficiente para fazer a terra hesitar —
e aí, o dia duraria um pouco mais
e o planeta ficaria pra trás.
em vão, as pernas erram pelo mundo real —
seus passos derramados na pressa
correm com o sangue de quem
sabe a matemática das cócegas
onde os poemas fazem-se importantes.
e aí, te espero no fim de uma carta
em que as palavras sonham ser carne.
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